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Matar por luxo – Aves

Micheal Bright
Matar por luxo
Colecção “Natureza em perigo”
Porto, Edinter, 1989

Excertos adaptados

 

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Todas as aves do céu

As aves sempre foram exploradas como fonte de alimento. Na Europa, a caça de aves canoras era uma maneira tradicional de completar a dieta dos camponeses. O impacto exercido nas populações de aves não era grande. Actualmente, porém, muitas aves acabam por ir parar a restaurantes onde especialidades como “laverca em pickles” e “patê de tordo” têm grande procura, e a caça transformou-se em massacre. Todas as Primaveras são abatidas centenas de milhares de aves em migração de África para a Europa. São mortas a tiro, aprisionadas em armadilhas e apanhadas em poleiros untados com visco. A matança é indiscriminada, algumas vezes para alimento, outras apenas por diversão. A Espanha dá conta de 30 milhões de mortes por ano; a França e a Itália, 40 milhões cada. Malta, Chipre, Líbano, Portugal e Grécia também participam na matança.

No Sudoeste da França, a caça à rola mobiliza dezenas de milhares de caçadores. Colocam-se em plataformas elevadas e abatem uma por uma as rolas migradoras, desprezando as leis de proibição de selecção. Uma directiva da CEE sobre conservação de aves selvagens exige que os estados membros protejam todas as aves migratórias, mas um forte grupo de influência assegura que as proibições de caça ao longo do Mediterrâneo sejam ignoradas.

No passado recente, existem vários exemplos da matança de aves, em larga escala, ter conduzido à destruição das espécies. O pombo-selvagem norte-americano foi, provavelmente, a ave mais numerosa do globo. Centenas de milhões de aves prosperavam em bandos enormes que enchiam os céus. Foram implacavelmente caçados como fonte de alimento e por desporto, até que o último morreu, em 1914. Hoje em dia, a destruição dos habitais está a reduzir o número de muitas espécies. O abate indiscriminado pode conduzi-las à extinção.

Na minha opinião, a destruição intencional e descuidada da vida selvagem é uma ofensa não só contra a Natureza, mas também contra a civilização.

Bil Oddier, observador de aves

Os andorinhões da Malásia crescem em ninhos parcialmente construído com a saliva seca dos pais, ingrediente essencial de uma cara especialidade gastronómica: a sopa de ninhos de andorinha. É bastante frequente as crias serem desalojadas para se ficar com os ninhos. Então, são dilaceradas por insectos vorazes.

 

O caçador e as vítimas

Culturas diferentes têm atitudes variadas em relação ao abate da vida selvagem. Para algumas, é simplesmente uma fonte de alimento; para outras é um meio de enriquecer rapidamente ou de manter tradições importantes. Na América do Norte e no Norte da Europa, é pela pura excitação de matar, nos Estados Unidos o abate de ursos, lobos, veados e alces é um grande negócio. Na Escócia, os caçadores perseguem os veados machos por causa das suas armações — um desporto muito lucrativo. Não estão interessados na perseguição, muito menos sedutora, do veado fêmea. Em consequência disso, as manadas ficam desequilibradas, com demasiados veados em busca de comida. Mas os atiradores também criam animais de caça para os soltarem e abaterem. Este tipo de caça acontece, frequentemente, em grandes propriedades que preservam a área selvagem.

Nas opulentas Europa e América do Norte as espécies caçadas não estão, geralmente, ameaçadas; mas noutras partes do mundo, a caça de vida selvagem é um modo de vida necessário. Por que haveriam os pobres de se preocupar com a extinção de uma espécie, quando têm que se preocupar com a sua própria sobrevivência? Comerciantes sem escrúpulos, atraídos pelo dinheiro do Ocidente, tiram partido dessa situação difícil e encorajam o saque da vida selvagem. Até que os destinatários do saque compreendam o prejuízo causado para lhes satisfazer os caprichos e desejos, o mundo selvagem continuará a ser devastado.

Seguir o rasto de um veado, na floresta, e abatê-lo com arco e flecha exige perícia. Para algumas pessoas, a caça parece satisfazer uma necessidade primitiva de perseguir e matar. No Canadá, a época de caça às aves aquáticas migratórias é esperada por mais de 385.000 caçadores que pagam uma licença de 10 dólares. Assim, ajudam à conservação do ambiente, pois parte da cota vai para o “Habitat Selvagem do Canadá”.